foto:internet
O primeiro show que assisti foi o deles. Final dos anos 80, o Palácio dos Esportes lotado. Era a primeira vez que saía de casa com motivos verdadeiros de adoração por ídolos que invadiam minha alma de adolescente, afloravam meu romantismo pop-rock. Inesquecível o show, e todas as músicas que curtia saboreando um gosto falso de liberdade limitada aos segredos de agenda de colégio.
Passando como o tempo, eu mudei e bastante, mas não me esqueci dele e de sua voz rouca. Quanto tempo se passou, e nas férias deste ano encontro o vocalista do meu primeiro show no mesmo hotel que eu estava. Relutei um pouco em chegar perto, mas a vontade de conhecê-lo pessoalmente foi maior. O cenário que vi não foi dos melhores. Lá estava Herbert Vianna e o mar, uma sala imensa, redes vazias ao redor, sentado na cadeira de rodas, o olhar fixado na imensidão. Uma variação de sentimentos e um silêncio gigante que me fez apenas observá-lo. Eu com meu filho no colo, quando percebi não tinha mais vontade de dizer nada, a postura triste, talvez seca do cantor, não me deixou falar.
Respeitar o silêncio alheio é não arriscar que ultrapassem mais tarde a linha do nosso sacrário. Acho que as ciladas do seu destino também o fez mudar, mas eu no meu impulso de adolescente acordado no meio de um tempo mudado, não pensei que as coisas também mudassem para aqueles que nos decifram e em algumas fases da nossa vida e nos cativam por simples frases em melodias, tons e letras que jamais esqueceremos.
Em segundos pensei na minha agenda do colégio, dos meus LPs gigantes, enquanto o silêncio se perpetuava como um grito me mandando sair. Fiquei, afinal foi ele quem disse numa música: "Não sei bem certo, Se é só ilusão, Se é você já perto, Se é intuição, Aonde quer que eu vá, Levo você no olhar..."
Foram poucos minutos e não tive coragem de conversar, minha saída foi olhar para o mesmo mar que ele, talvez no desejo em vão de sentir e achar algo que ali estivesse. Passei a conversar com meu filho ao lado da sua cadeira e disse que ele tinha sido um ídolo na minha adolescência, que curtia suas músicas e que continuava a admirá-lo, ele olhou para o meu lado rapidamente e estendeu sua mão e agradeceu friamente, sem um sorriso nos lábios. Quase pedi desculpas pela invasão, como em outra música dele: " ...o seu exército invadindo o meu país..."
Se invadi, não me arrependo, busquei e descobri um homem e não o ídolo, que bom, somos todos iguais. Agora sei que ele tinha razão quando deixou para nós uma das suas melhores composições, "Meu Erro" e eu saí com ela na minha cabeça. "... eu quis dizer você não quis escutar, agora não peça, não me faça promessas... o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria"
Yasmine Lemos
Janeiro de 2009
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Amor e Paz