REVOLUÇÃO

A minha poesia cansou...

Em cada esquina se mostra um poeta

Que mostra um riso sem força

Poetas são pessoas dignas

São guardiões da dor

Ela não nasce com a vida

Ela surge com a dor e alegria de quem escancara o riso e mostra a lágrima

Onde se cria o rensacer da alma

A poesia não quer falar mais nada

Cansou da hipocrisia

Das máscaras da demagogia

Dos elogios sem calor

Onde se usa tanto o nome do amor

Tive coragem , abri a porta e gritei para a rua:

Tirem as capas !

A poesia vaga nua

Em plena rua

Com sinceridade

Lealdade

Simplicidade

Escutem : há barulhos de tecnologias

De carros com alegorias baratas

Isto a poesia não quer

Não quer a vaidade que desperta a incapacidade de ser homem

A minha poesia está decepcionada

Desliguem as máquinas

Quebrem os cristais

Não bebam uísques

Tomem pinga , a cachaça que alucina o sangue dos pobres mortais

Percebam a piúba do cigarro

Ali mora alguma fome, alguma sobra de amargura

Igualem-se com candura

A poesia quer igualdade como a morte

Não o imortal que vomita a própria sorte

Não soberania , nem privilégios emocionais

Não o narcisismo menor

Eu quero como aprendiz

Que alguém me mostre o caminho

Do desfazer equívocos sentimentais

Dos amores que não passam de palavras letais

Convoco todos os sensíveis

Os alucinados

Os atordoados

Os insanos febris

Quero aberrações de sentimentos

Quero coragem para vivê-los

Sangue quente , pedaços de papéis rasgados , beijos descontrolados

Abertos aos olhos alheios

Para depois serem escritos

Como o verso certo encontrado

Leal ao seu encanto

Quero poetas que sejam a própria poesia , não só as letras

Quero a vivência e a prática de quem a escreve

Poetas são responsáveis pelo seu punho

Fechada a porta

Ela quer só o amor

E o poeta sem fingir que é uma poesia morta.

Yasmine Lemos

(Do livro Vestida em Versos /2008)