Há algum tempo reconheci mais uma mulher dentro de mim, talvez a mais significativa de todas as outras. A que formou, construiu e destruiu sentimentos. Consegui reconhecê-la quando estava na feira. Ela gritava mostrando sua banca de produtos. Eram bordados feitos a mão, toalhinhas de cozinha, de banho com detalhes impressionantes. Quanta delicadeza, não só isso, beleza e paciência. Algumas pessoas passavam e admiravam,diziam que amava aquele tipo de trabalho,outras não paravam,no final passavam todas.
Descobri que a cada ponto dado, também nele acompanhava um nó, e lá na frente não dando certo, ela desfazia cada ponto bem colocado por causa do erro menor. E os dedos muitas vezes se cortavam por causa da agulha e do cansaço.
Foi assim que me reconheci, em uma estrada de pontos cruzados. Nó preso no limite de cada erro.
A banca dos meus sentimentos havia chegado ao ponto final. Não havia trabalho algum finalizado, percebi que os nós estavam desfeitos aos poucos e minhas mãos e alma machucadas. Mas ainda havia estrada. Não continuei com a mesma velocidade, desconcentrei-me do tempo, onde os detalhes que ninguém percebera não tivessem mais importância. Fui caminhando e jogando ao vento todos os panos e com eles os desenganos. Tirei a liga do cabelo, joguei os sapatos fora, a agenda das horas que não valiam de marcação para qualquer dor. Restaram alguns nós e eu consegui desatar, sem machucar tanto, já havia calos e o ressecamento do choro, amenizava as furadas.
Mudei.
Gritar, chorar, amar. Fazer o que com os três? Guardei.
Caminhada longa, mas consegui parar, não agüentei a peleja de alma contra corpo e recostei-me nos mesmos lugares vividos, olhei as mesmas agulhas pontudas e vi que havia caminhado talvez em círculos ou fosse um labirinto que não conseguia reconhecer antes. Já não existia proteção alguma sobre minha alma, só um sentimento novo: vontade de esperar alguém que chamasse meu nome. Que viesse de qualquer sentido, pulasse o muro, abrisse o portão, cortasse a estrada, mesmo na contramão, mas chegasse. Era essa vontade morta que havia renascido, embora por dentro muitas marcas.
Assim que lhe vi e ouvi, acreditei. Nada de pontos e nós.
Pés descalços, apenas nossos laços.
Gilberto Gil : A Linha e o Linho
Simplesmente genial,Yasmine! Todos temos nós, mas não dar importância só a eles e seguir com os laços que unem, aproximam, é muito melhor...beijos,lindo dia,chica
ResponderExcluirMuito bem descerito trajeto. Tentando desfazer os nós que aprisionam, mas não permitir que eles façam uma forca em torno das esperanças.
ResponderExcluirbjs
Oi Yasmine!
ResponderExcluirLiiindo!
Me emocionei, pois fui me vendo aí...
O importante é tentar avançar sem fazer pressão nos nós que não conseguiu desatar e refazer tentando acertar os desmanchados... Laços que se toram nós... irônico.
Olá Yasmine
ResponderExcluirDesfazer os nós de nossa vida, pode nos custar muitas dores, mas mesmo assim vale a pena correr os riscos.
Bjux
Laços ! que sejam mais um detalhe na criatividade da nossa convivência.
ResponderExcluirLaços de família, laços de ternura ,laços no cabelo , laços de fita. De todas as cores.
E sem embaraços.
Um lindo dia Yasmine
com beijinhos
Que coisa especial esse teu texto, algo profundo e reflexivo, gostei muito
ResponderExcluirAs vezes observar nos traz grandes ensinamentos e insights
Uma ótima semana pra ti!
amor é isso...
ResponderExcluirNão prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.
Beijo meu.
As vezes certas decisóes nos fazem cortar o cordáo...beijo Lisette.
ResponderExcluirOi,Yasmine!O que dizer se tudo já foi dito?Tão lindo seu texto!A vida é assim mesmo, nos machuca, parece nos pedir mais do uqe podemos dar,mas o tempo sara as feridas e mais uma vez somos postos a prova e a gente sempre espera por alguém que venha nos socorrer no meio desse caminho...
ResponderExcluirBeijos
Como é bom ler você! Mergulhar em suas profundas palavras. Palavras belas que nos levam a pensar, realmente, num ponto final. Assim, pelas estradas caminham as almas, procurando a saída de um labirinto, e, quase sempre seria preciso um grito, num canto construído num silêncio profundo.
ResponderExcluirParabéns!
Escreva sempre!
Oi Querida Yasmine, lindo e comovente texto!
ResponderExcluirLaços são sempre uma forma de aproximar, sejam eles quais forem.
Tem convite pra vc no Retratos em Degradê.Passa lá depois e vê se aceita participar do desafio.
Seria um prazer tê-la nessa maratona.
grande beijo
LU CAVICHIOI
DEUS! Como eu amo vir aqui! E como eu mao ler você Yasmine! Que texto incrívelllllllll! Sem palavras. To de pé te aplaudindo não to pulando! Lindo amiga! Não é exagero meu não! É deu Divino Dom que me ajuda a renascer... tem uma mulher desta agora, vivendo dentro de mim também! ( Aguarde, que tem Bejo de Fogo pra vc lá no VF daqui uns dias! )
ResponderExcluirBju de Luz! Gratidão profunda por esta jóia digna do Nobel!
Meu amor,
ResponderExcluirNesse primeiro de junho, junho dos dos namorados e do São Jõao e do São Pedro e dos forrós, seguimos vivendo descalços os nossos laços.
Ivan
Amor se reconhece, sempre acreditei nisso...
ResponderExcluirTexto lindo, você não imagina o bem que me fez.
Beijo